domingo, 23 de maio de 2010

Enfim, música nas escolas outra vez ! (resenha)

Em seu artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, com o título homônimo, em 22 de setembro de 2008, o maestro Júlio Medaglia, um dos principais expoentes de inconteste valência no cenário musical nacional, actante não só da música erudita, mas também da popular, à qual sempre esteve ligado através de movimentos de vanguada [Tropicália, Festivais de MPB etc.], declara que "é preciso abrir a mente dos jovens para muitas vivências sonoras e mostrar-lhes como é grande e colorido o mundo musical universal".

Para tanto, releu as pegadas sulcadas por Villa-Lobos na década de 1930, quando ele resolveu permanecer no Brasil para iniciar um projeto de ensino musical nas escolas, em detrimento a uma excelente carreira internacional que então se figurava. Justificava sua permanência nesta terra das palmeiras ao notar os primeiros indícios da incipiente marca da indústria cultural, que emergia por conta da chegada dos novíssimos meios eletrônicos: o rádio e a gravação de discos.

"O brasileiro deveria ser municiado de informações musicais sólidas - dizia Villa-Lobos - para não ficar refém de uma indústria cultural que se expande inversamente à medida que baixa o nível artístico do que produz, sob o frenético impulso do consuma e descarte".

Apoiado pelo governo Federal, o maestro Villa-Lobos fez uma longa viagem pelo Estado de São Paulo, com o intuito de divulgar o ensino de música de qualidade. A partir disso, o então secretário de Educação do rio, Anísio Teixeira, criou para Villa-Lobos a superintendência da Educação Musical e Artística. Em resposta às inúmeras concentrações corais que o maestro reunia nos principais estádios da época, o presidente Getúlio Vargas decretou a obrigatoriedade do ensino musical no país, instituindo a criação do Conservatório Nacional de Canto Orfeônico para a formação de professores sob tutela do compositor.

Assim, o canto orfeônico prestou inestimáveis serviços à formação do cidadão brasileiro. O
Guia Prático, reunindo 137 canções folclóricas colhidas in loco pelo maestro fazia com que o Brasil acontecesse ao povo e vice-versa.

Entretanto, em 1972, vem o golpe certeiro, derradeiro e mortal na educação musical, momento em que o então Ministro da Educação e Cultura, Jarbas Passarinho, baniu de vez o ensino de música das escolas brasileiras. Daí até nossos dias um interregno contemplando lentos longos anos alienou nossos jovens da essência da própria cultura, tornando-os fracos e curruptíveis a toda sorte de influências maléficas.

Não obstante, alarmada pelo grave quadro de baixo nível cultural dos nossos adolescentes, resolve então a Senadora Roseana Sarney apresentar um projeto alterando a Lei de diretrizes e Bases, de 1996, propondo novamente a obrigatoriedade do ensino musical nas escolas nos termos da Lei 11.769, de 2008, prontamente sancionada pelo presidente Lula.

Sob a visada do maestro Medaglia, resta agora a criação de um currículo eficaz e urgente no sentido de que se crie algo prático e compacto a ponto de um músico de formação razoável entrar numa sala de aula e exibir vídeos, CDs; fazer as crianças cantarem o Guia Prático, os hinos nacionais e tocar instrumentos simples.

Portanto, o artigo do Maestro Júlio Medaglia é bastante esclarecedor sobre o malefício causado durante muito tempo pela inexistência de uma ferramenta reflexiva de grande poder de ação entre os jovens brasileiros: a educação musical. Assim, o artigo é de leitura obrigatória menos aos educadores musicais do que ao grande público jovem, que necessita urgentemente compreender o que é cidadania.


Referências Bibliográficas:

MEDAGLIA, Júlio. Enfim, música nas escolas outra vez!
Jornal Folha de S. Paulo. São Paulo, 22 de set. 2008, Tendências / Debates, p. A3

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