Lieds Musicais
Destina-se este blog à publicação de informações pertinentes à área de música e educação musical
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domingo, 18 de março de 2018
Música na educação básica: por uma estética musical libertadora
Música na
educação básica: por uma estética musical libertadora
Resumo. O Presente projeto de pesquisa tem
como objetivo avaliar em que nível a educação musical pode levar a sociedade a
galgar índices satisfatórios de desenvolvimento humano. A pesquisa
pretende verificar se “a exposição às imagens midiáticas durante a educação
básica pode afetar a criança na formação da cidadania”. O estudo envolverá o
levantamento de dados entre autores importantes com grande envolvimento na área
da educação musical, no sentido de corroborar a validade da aula de música no
contexto escolar. Para tanto, este trabalho estruturar-se-á metodologicamente
através da revisão bibliográfica de tais autores, principalmente o educador
Koellreutter com sua proposta de educação musical na preparação de um mundo
realmente humano. Sendo a música na educação básica uma ambição que remete aos
tempos de Villa-Lobos, na década de 1930, pretende-se mostrar nesta pesquisa
que de lá pra cá, através da inovação tecnológica, os recursos mediáticos
acabaram por dominar a cena da cultura brasileira, afeta ao processo de
construção de uma consciência nacional em nossas crianças. Portanto, com este
trabalho propomos a possibilidade do resgate da cultura nacional elegendo a
música como ferramenta na educação básica para a construção de cidadãos fortes,
incorruptíveis e irmanados na luta pelo bem comum.
Palavras-chave: Educação
musical, Estética musical, Cidadania.
Introdução
Ao longo
do curso de Licenciatura em Educação Musical pude compreender, como
grande ganho de aprendizagem, a revelação de que o curso não formara apenas
licenciados em música, senão a constatação da construção de um olhar humanizado
capaz de causar importantes transformações na vida social e política das pessoas
através da ação da música.
Durante o
percurso, a arte do compartilhar sempre estivera em foco, quer na troca de
informações entre colegas, angustiados diante da alma vergada sob os desafios
impostos pelo projeto político pedagógico do curso, quer pelos eventos sociais
propostos por uma ou outra disciplina, a estabelecer uma aproximação entre a
produção do conhecimento no campus universitário e a sociedade: em asilos,
hospitais, escolas de educação básica e comunidades de jovens e adultos.
Como
educador musical, venho desenvolvendo um trabalho musical junto a um coro de
adultos e terceira idade, no qual a faixa etária chega há 85 anos. Levo ao
grupo desafios diversos, promovendo a interação social e a alavancagem de
preceitos importantes sobre a vida. Felicidade, fatalidade, luto e todas as
componentes da vida, que atuam diretamente no equilíbrio psicossomático da
pessoa humana, são tratadas como fatos dessa mesma vida. Assim, enfatizo que a
educação musical assume o papel norteador das paixões humanas, de modo que a
sua prática consolida e enaltece nossas crenças nesta rápida e vulnerável
existência terrena.
a.
Relação
professor aluno
Quanto à
questão da prática do ensino de música, Del-Ben (2011), observa que, da
mediação nas relações das pessoas com a música, consiste o ato de ensinar e
aprender, papel fim do educador musical: promover aprendizagens musicais.
Entretanto, a fruição do conteúdo a ser ensinado depende dos pontos extremos
entre os quais se movimente: do professor ao aluno; ou como diria Koellreutter:
buscar no aluno o que deve ser-lhe ensinado. Assim, cabe ao educador musical
problematizar o eixo de conhecimento que ele deseja trabalhar com o aluno,
considerando sua história de vida como destinatário, no sentido de que tal
ensino lhe seja útil e perene: que sirva para a vida toda, como ferramenta de
reflexão e de instalação no mundo, não apenas mais um conteúdo sem sentido, que
vá se dissipar da memória do um aluno um mês depois (DEL-BEM 2011).
De acordo
com Basabe e Colls (2000), ensinar pressupõe um canal de comunicação, além de
demandar afetos: dedicação, zelo e cuidados múltiplos, que se traduzem em
assistência incondicionada com escopo ao desenvolvimento humano e a criação de
valores. Além da necessidade de diagnosticar as pendências cognitivas
residentes principalmente em crianças em tenra idade, e de estrato social
inferior, é necessário ainda criar estratégias para buscar respostas
significativas de ensino para desencadearem um processo de aprendizagem
plenamente eficaz. Portanto, ensinar demanda uma relação não apenas de
alteridade, de total consciência com o outro, como também de simbiose, de modo
que não seja possível aferir quem é mais beneficiado na relação de
ensino-aprendizagem: educador ou aluno. (BASABE e COLLS, 2000, apud DEL-BEN).
- Parâmetros
Curriculares Nacionais
De acordo
Del-Ben (2011), o ensino musical pode ser conduzido por formas gerativas
através de atividades ou eixos norteadores de cenários propícios ao
acontecimento da aprendizagem. Tais ideias permeiam os Parâmetros Curriculares
Nacionais. Nesse Documento, a área de Arte é constituída de quatro linguagens
artísticas principais: Artes Visuais, Música, Teatro e dança. Dentre
tantos objetivos, figuram:
“compreender a cidadania como participação social e
política [...]: desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento
de confiança em suas capacidades afetivas, física, cognitiva, ética, estética,
de inter-relação pessoal e de inserção pessoal [...]; conhecer o próprio corpo
e dele cuidar [...]; utilizar as diferentes linguagens – verbal, musical,
matemática, gráfica, plástica e corporal – como meio para produzir, expressar e
comunicar suas ideias, interpretar e usufruir das produções culturais, em
contextos públicos e privados, atendendo a diferentes intenções e situações de
comunicação”. (BRASIL. Secretaria de Educação de Educação Fundamental.
Parâmetros curriculares nacionais: arte. Brasília: MEC / SEF, 1998).
Portanto,
para a construção de uma cidadania perene, sustentável e fortalecida, através
da competente articulação social e política, compreendendo o sentido do fazer
artístico: experiências de desenhar, cantar, dançar, filmar, vídeo-gravar, é conditio
sine qua non que o aluno percorra caminhos de aprendizagem que propiciem
conhecimentos específicos sobre a noção de pertencimento ao mundo. Assim, as
autoras defendem um ensino musical não de maneira isolada, senão de forma
catalisadora dos demais eixos artísticos. Para corroborar tal assertiva, relata
uma experiência na qual há uma experiência envolvendo criação e interpretação
de jingles, trilha sonora, arranjos, músicas do dia a dia e às
referentes aos movimentos musicais atuais com os quais os jovens se
identificam. (idem)
- Koellreuter
e cultura
Neste
cenário, aduz Koellreutter (1990), que o artista deverá cultivar os valores
culturais de seu povo, selecionando-os sob o ponto de vista de sua validade
universal, i.é, considerando o que de fato se constitui como definitivamente
particular em sua maneira de viver, suas crenças, seus valores estéticos e
éticos, suas manifestações folclóricas, religiosas e tudo o que venha agregar
utilidade em seu processo de emancipação da natureza.
Com
efeito, a totalidade dos esforços e empenhos dos homens, dos seus objetivos de
vida, de suas necessidades e interesses sociais na direção de emancipar-se do
seu estado natural e desenvolver instrumentos úteis que se tornem extensões de
seus corpos, com escopo à produção da vida diária, através dos quais possam
atingir suas finalidades existenciais: poder “enganar” a hostilidade da
natureza domesticando-a em seu favor, Koellreutter denominou de cultura.
Daí o caráter revelador deste texto, pois ele não trata mais do
Koellreutter da música contemporânea, nem o da Escola de Música da Bahia, nem
do professor de nossos mestres, mas do pensador altruísta que entende que a
educação musical é a ferramenta mestra para a instalação da nossa sociedade [a
parte excluída] na atual ordem planetária.
- As
imagens midiáticas
De acordo
com Mcluhan (1964), os meios de comunicação se dividem em quentes e frios.
O rádio e o cinema são considerados como meios quentes, pois não deixam muita
coisa a ser preenchida pela audiência, pois opera num plano de alta definição,
tal como a fotografia, que se difere de uma caricatura, considerando sua
resolução. Paradoxalmente, a TV, o telefone, a fala, são meios frios de
comunicação, por resultarem em baixa definição. Entretanto, um meio frio como
os caracteres escritos pode sofrer o artificial aquecimento pela intensificação
da imprensa repetitiva e produzir a ilusão de uma mudança de significado de uma
mensagem à luz de sua imagem (MCLUHAN, 1964, p 38-42).
Segundo
Flusser (2002), em sua estrutura, a imagem tem como resultante um
resultado de síntese entre duas intencionalidades: a do emissor e a do
receptor. Portanto, as imagens oferecem um espaço interpretativo: símbolos
conotativos, sendo literalmente mediações entre a criança e o mundo, o qual
ainda não lhe é acessível por completo em sua tenra idade, ou seja: na primeira
infância. Assim, o mundo vai sendo vivenciado pela criança como um conjunto de
cenas que processam a magicização da vida (FLUSSER, 2002, p. 8-9).
Entretanto,
a observar hoje nossas crianças a crescer num cenário predominantemente
propenso à pregnância do excesso da informação, quer nas TVs, rádios, quer nos
veículos diversos informatizados como celulares, tablets, jogos violentos, uma
indagação me é frequente: a exposição às imagens midiáticas durante a
educação básica pode afetar a criança na formação da cidadania?
- Cidadania
sustentável
Ora, mas
que cidadania é esta de valor tão intrínseco e crucial para o desenvolvimento
das crianças que precisa de blindagem ainda no período da escola básica? E qual
o papel da educação musical neste lugar apenas e somente redutível à
sala de aula?
Com
efeito, as ideias que aproximam as crianças do conceito de cidadania
sustentável impelem-nas a compreender “que suas ações repercutem e interferem na
qualidade de vida de outras pessoas, na comunidade e no meio ambiente”.
Trata-se ainda da assimilação de condutas éticas e morais que estimulem menos
uma participação social e política com responsabilidade e perenidade do que
“desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento de confiança em
suas capacidades afetivas, física, cognitiva, ética, estética, de inter-relação
pessoal e de inserção pessoal” (BRASIL, 1998).
Portanto,
o papel da educação musical, em princípio, consiste em consolidar a sua
obrigatoriedade na escola de educação básica, para que o professor de música,
preparado e atualizado, possa fazer do espaço da sala de aula o lugar onde
o debate possa fruir dialogicamente acerca da manutenção da vida, aunando
alunos e educador.
Dessa maneira, têm-se na música reflexiva na ação as melhores chances de projetar uma
criança ao mundo adulto, carregada dos predicativos e afetos necessários à
completude de um ser humano total, capaz de pensar, sentir, e compreender o
comportamento humano na rota da construção do seu próprio destino, com ética,
estética e alteridade. Assim, a educação musical como técnica de ensino
humanizado pode catalisar aprendizagens significativas a partir das
manifestações artísticas do cotidiano.
Portanto,
a música na educação básica é uma reivindicação que vem dos tempos do período
militar, quando a música fora banida das escolas brasileiras e substituída pela
disciplina de Educação Artística, abortando um processo de criação artística
iniciado por Villa-Lobos na década de 1930.
De lá pra
cá, através da inovação tecnológica, os recursos midiáticos acabaram por
dominar a cena da cultura brasileira, promovendo atitudes “do compre e
descarte”, período em que se desencadeou uma série de produções de baixo teor
artístico voltadas para o entretenimento: filmes
infantis, músicas, eletrodomésticos e brinquedos alheios às realidades de
nossas crianças.
Recentemente, participando de uma atividade de
estágio supervisionado, na qual a professora propôs uma cantoria em sala de
aula à luz dos programas de auditório de TV (palco – plateia), o repertório
utilizado pelas crianças remetia às canções de letras monossilábicas ditadas
pela indústria cultural e reproduzidas à exaustão não apenas pelo meio quente
do rádio (adulterado) como pelo natural meio frio da TV. Contudo, a escola tem
de ser sempre um meio de comunicação quente, para blindar a criança na educação
básica de toda influência desnecessária. Portanto, com este trabalho propomos a
possibilidade do resgate da cultura nacional elegendo a música educação básica
como a ferramenta para a construção de cidadãos fortes, incorruptíveis e
irmanados na luta pelo bem comum e a vida boa.
Desenvolvimento
Tendo como
um dos objetivos avaliar em que nível a educação musical pode levar a sociedade
a galgar índices satisfatórios de desenvolvimento humano através do ensino de
música, este trabalho buscou respostas em meio a uma polifonia de vozes que
ecoam os pensamentos de importantes educadores musicais num dialogismo que
reflete as mais variadas tendências no âmbito desse debate, principalmente
neste momento em que a obrigatoriedade do ensino de música está de volta às escolas
por força da Lei 11.769/08.
Se hoje se
fala da volta da obrigatoriedade do ensino de música nas escolas brasileiras,
em contrapartida, há de se considerar a sua existência num certo período de
tempo, seguida de uma descontinuidade: foi o que se deu durante o período
militar. Então, extinto o ensino de música nas escolas, a presença dos meios de
comunicação de massa, o rádio, a TV, veiculando mensagens pertinentes a
indústria cultural, fizeram com que nossos alunos chegassem ao ensino médio
deseducados, com baixo poder de concentração para absorverem aprendizagens, e
sem consciência de si mesmo, bem como alheios à noção de pertencimento ao
planeta.
Entretanto,
espera-se que a educação musical assuma o papel de consolidar a obrigatoriedade
na educação básica num primeiro plano, pois sem esta condição não haverá um
ensino forte capaz de provocar as transformações que a sociedade necessita. Só
assim, teremos a prerrogativa de fazer de nossos alunos cidadãos plenos.
Considerando
o papel da educação musical como técnica de ensino, as discussões apontam para
duas vertentes possíveis: o caminho recreativo, baseado na integração dos
alunos em sala de aula, cuja sociabilidade se limita aos muros da escola, a
exemplo da disciplina de educação física. A outra possibilidade é inspirada nas
ideias do educador Koellreutter e tem um caráter sócio educativo, ou seja: além
da aplicação das atividades recreativas, baseadas em vivências voltadas para a
dança, ao movimento, às cantigas de rodas, ainda é possível inclinar o olhar
das crianças para um mundo a ser humanizado pela música.
Além do
educador Koellreutter, este estudo contou com as contribuições de autores como.
Em Couto & Santos (2009), os quais apresentam uma revisão bibliográfica
profunda sobre a validade da aula de música no contexto escolar. Foram também
consideradas contribuições de autores com grande envolvimento na área de
educação musical, tais como: Villa-Lobos, Fonterrada, Teca de Alencar de Brito,
Luciana Marta Del-Bem, Cássia Virginia Coelho de Souza, dentre outros.
Portanto, todos os autores encimados vêm ao encontro das ambições em utilizar a
educação musical como uma ferramenta de revolução humana.
Considerações
finais
Portanto,
diante dos dados mostrados, nosso estudo aponta para uma estética libertadora
que alude a um processo educativo baseado na intertextualidade, ligando
tradição e modernidade, de modo que a comparação se mostra como a melhor
metodologia para conscientizar o que for necessário. Nessa direção, afirma o
Maestro Júlio Medaglia: É preciso abrir a mente dos jovens para muitas
vivências sonoras e mostrar-lhes como é grande e colorido o mundo musical
universal.
Análogo ao
que ocorre no Brasil de hoje, também acontecia na Hungria antes de Kodály, de
modo que o que se tocava nas cidades era distante da autêntica música húngara.
Entretanto, Kodály e sua equipe percorreu o país até o mais longínquo rincão
colhendo e registrando a verdadeira música húngara, tida como fonte de cultura
e espelho da alma da Hungria moderna. No Brasil Villa-Lobos seguiu seus passos,
pois ambicionava a libertação da pátria das influências maléficas que assolavam
a cultura brasileira dos anos de 1930, através dos novos meios de comunicação:
o rádio e a gravação de discos.
Ainda
hoje, nos espaços de educação infantil, é comum as professoras aduzirem que as
crianças estão perdendo a faculdade de concentração. Atribuem as causas ao
convívio direto com pais, amiguinhos do mesmo nível social, todos influenciados
pelas realidades coloridas das telas de TVs. Durante o período sem a
obrigatoriedade nas escolas, a formação da criança das expectativas,
considerando o avanço dos meios de comunicação.
Neste
momento, em que pese à manutenção da vida e do planeta como um todo, mais
importante que a própria presença do ensino de música nas escolas é de fato a
consolidação da sua obrigatoriedade, de modo que as pesquisas de Villa-Lobos no
campo da educação musical ainda se constituem num terreno fértil. Assim,
estaríamos anos luz no futuro se conseguíssemos fazer as crianças cantarem o
Guia Prático; conhecer os hinos nacionais e tocar instrumentos simples, talvez
fabricados por eles próprios, baseados nas experiências do Método Orff
(MEDAGLIA, 2008).
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Conhecimento pedagógico-musical, tecnologias e novas abordagens na educação
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